(...)
AF: Pensa que esse é um dos problemas que estamos a viver na sociedade hoje em dia? O know-how que é produzido em Portugal está a sair?
LMA: Não me preocupa nada que os jovens que se formam em Portugal vão para os estrangeiro numa primeira fase, a questão que eu ponho é se o país está capacitado para depois os atrair, numa segunda fase, a voltarem a Portugal. Porque se eles forem numa primeira fase trabalhar no estrangeiro e conhecerem o mundo, se conseguirmos que eles regressem a Portugal, regressam com outra visão do mundo, outra capacidade e outra competência internacional que é muito útil no desenvolvimento das empresas portuguesas da economia global. A mim não me preocupa nada que eles numa primeira fase vão para o estrangeiro, o que me preocupa é se depois o país não tiver empresas e oportunidades para os fazer regressar e reter em Portugal numa segunda fase.
AF: (...) Gostava de lhe falar, ou de lhe perguntar, sobre o famoso relatório de Porter. Sou um grande fã de Michael Porter e sei que durante o seu exercício no governo de Cavaco Silva, encomendou o tal relatório sobre como poderiam, de forma estratégica, potenciar alguns clusters portugueses. Sei que agora há uma intenção de revisão deste relatório. (...) O que é que Portugal necessita a nível industrial para ser mais competitivo?
LMA: (...) O que acontece é que quando o Professor Porter vem a Portugal e a meu pedido se elaborou o relatório de Porter, nós tínhamos alguns setores industriais que não podiam ser esquecidos que são os setores industriais tradicionais, como é o caso do têxtil, o vestuário, confeções e calçado. Havia aí uma mania de alguns de que, isto do tradiciona era obsoleto, é para desaparecer, e só se preocupavam com eletrónica ou modelos de Silicon Valey. O professor Porter veio-me ajudar. Veio dizer em inglês aquilo que eu dizia em português, que no fundo é que o setor industrial tradicional não é um setor obsoleto, é um setor que faz parte da nossa tradição e temos de conciliar a tradição desses setores com a sua capacidade de inovação. (...) o pais felizmente já evoluiu e está muito melhor do que estava há 30 anos quando eu trouxe o [Professor] Porter a Portugal. Para mim, faz todo o sentido revisitar o projeto de Porter para continuar a apoiar não só os clusters tradicionais, mas também estes clusters tecnológicos que hoje em dia já existem (...).
AF: E, como sabe, a Motofil é uma empresa familiar, e existe uma dimensão cultural muito forte aqui. Vê essa mesma dimensão noutras empresas ou aplicada mesmo ao tecido empresarial português como algo que puderá reduzir a velocidade da clusterização em Portugal ou algo que até poderá ajudar a clusterização em portugal?
LMA: No mundo de hoje nós não podemos ter uma visualização individualista (...) a própria noção de cluster, implica uma colaboração entre empresas e instituições de uma dada região que trabalham em conjunto, que coperam para se desenvolverem, e portanto o modelo de hoje, muitas vezes a gente tem de cooperar numa fase pré competitiva para depois competir na fase final. É fundamental que mesmo as empresas familiares tenham uma visão de cooperação e colaboração com o outro, para se puderem desenvolver (...) As empresas familiares no fundo, têm uma cultura, um conjunto de valores, que é instilada pela família, que são muito uteis ao desenvolvimento empresarial.
(...)
AF: Quais são as suas prespetivas para o futuro?
LMA: Bom, já lhe disse que há aqui duas grandes tendências que as empresas portuguesas têm de seguir. Tendências mundiais que são irreversíveis, que é a questão da transformação digital, com o modelo de industria 4.0, e o problema da transição ecológica que obviamente devem ser refletidos nos investimentos de energia e na preocupação com a economia circular. Cada vez mais, ter gente qualificada, quadros altamente qualificados, nas empresas para se desenvolverem. Como nós infelizmente temos empresas de muito pequena dimensão, há aqui todo um movimento de concentração e de cooperação digital que é obsolutamente necessário face aos dias de hoje. Porque, felizmente, nós já precebemos que não temos o mercado português, muitas vezes temos o mercado ibérico ou o mercado mundial. Portanto, a nossa competição é à escala ibérica, europeia ou mundial e já não é à escala meramente portuguesa.
O "Pontos Por Soldar" é um podcast produzido pela Motofil com o objetivo de abordar diferentes assuntos sobre a Indústria Portugues, nomeadamente a Indústria Metalomecânica.
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